Teresa Fagulha
Quando Pedro Luzes assumiu a coordenação do Núcleo de Psicologia Clínica Dinâmica da Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa, encontrou um grupo de colaboradores que o haviam conhecido enquanto alunos e um deles, enquanto seu assistente em disciplinas da licenciatura em Psicologia. Todos respeitavam o seu saber e a sua cultura. Tinham todos os motivos para confiar no seu empenho e dedicação e na sua competência na condução do grupo de docentes da clínica de orientação psicodinâmica. Tinham à época instalações, na Cidade Universitária, com condições adequadas para funcionamento de consultas (uma sala especialmente planeada para consulta de crianças e três para adultos). Desde o início do trabalho docente, todos os que optaram pelo regime de dedicação exclusiva vinham exercendo a atividade clínica, indispensável à sua formação enquanto psicoterapeutas e formadores de psicólogos, no contexto dos Serviços à Comunidade da Faculdade (na altura, na verdade, ainda insuficientemente estruturados). Ao assumir o papel de coordenador, Pedro Luzes aceitou igualmente o papel de supervisor dos docentes do Núcleo que asseguravam essas consultas.
Dadas as múltiplas polémicas que têm surgido à volta do assunto, vale a pena sublinhar que a distinção entre a psicanálise e a psicoterapia psicanalítica nunca foi aqui obstáculo a um bom entendimento. A posição de Pedro Luzes, psicanalista, tal como também a exprimiu ocasionalmente no seu ensino, sempre se caracterizou por uma grande flexibilidade e abertura, recusando fronteiras rígidas ou dogmáticas, simultaneamente seguro das diferenças e da especificidade das diferentes formas de abordagem.
E um dia o Professor Luzes surgiu com a ideia pioneira de transformar essa consulta externa numa Instituição Privada de Solidariedade Social – cujos serviços poderiam ser pagos, não com objetivo do lucro, mas permitindo que o trabalho clínico pudesse realizar-se em melhores condições, responsabilizando os utentes por um pequeno pagamento (que seria ele próprio investido na formação dos docentes). E pôs ao serviço desta ideia a sua experiência e o seu conhecimento. Foi um tempo de entusiasmo, de “fazer nascer”. O nome, por imperativos legais, sujeito a várias alterações, veio a fixar-se em Instituto de Psicologia das Relações Humanas – IPRH – como hoje (tempo de siglas…) é conhecido.
Com o andar do tempo, e na medida em que os Serviços à Comunidade tiveram permissão para receber estagiários profissionais, o IPRH foi admitindo sucessivos grupos de psicólogos recém-formados que, sob supervisão dos docentes, aí iniciaram os primeiros passos da sua formação como psicoterapeutas de crianças, adolescentes e adultos. Paralelamente, e em consequência deste alargamento do número de colaboradores e de consultas, o Núcleo de Psicologia Clínica Dinâmica foi-se revitalizando pela partilha da atividade clínica, da qual beneficiou o próprio processo de ensino ao dispor de consultas que podiam ser observadas pelos alunos (através dos espelhos de visão unilateral que as instalações já garantiam). Tratava-se pois de uma clínica universitária que dava vida ao ensino. E tudo isso se foi mantendo, atestando a qualidade duma formação universitária que se pretende ativa e participativa, mobilizando docentes e discentes no desenvolvimento de conhecimentos.
Aos 20 anos da sua existência, o IPRH já constituía uma referência de formação e prestação de serviços à comunidade. Encarou, então, nesse momento, a possibilidade de se autonomizar e independentizar da casa que o tinha abrigado. A circunstância de ser uma IPPS favoreceu essa perspetiva. Encontrou instalações na Avenida Ressano Garcia, onde ainda hoje se situa, dando continuidade às atividades desenvolvidas anteriormente, quando operava na Faculdade de Psicologia, e sempre na memória grata ao seu fundador entretanto desaparecido.